Espelho


Não quero te encontrar naquele CD de R$ 1,99, nem ridicularmente sair seguindo o carrinho do ambulante até a música acabar, desviando-me assim dos meus caminhos.

Não quero comprar a blusa de R$ 29,90, nem a lingerie vulgar que não esconderia meus desejos porque você não vai arrancá-las de meu corpo.

Me minto é na sandália baixinha, na calça Jeans sem marca, na argola de R$ 1,00. Me minto nesse corpo que anda de ônibus e rebola em seus quase quarenta anos. Me minto nos telefonemas apressados, nos compromissos anotados, nos meus óculos grandes.

Perdi e não foi aqui nesse bairro cheio de vitrines algo de mim. Isso, esta, está com você.

Na sua juventude, no seu riso de anormal. Mas normal. É que eu sofro na pele desbotando a falta do sol do lugar em que você está. Transando com outras mulheres, conhecendo novas pessoas, rindo de outras piadas. Eu invejo sua disponibilidade, seu jeito para andar em cordas bambas malandramente.

Mas é só porque aqui está chovendo muito, espelho meu.

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