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Querido,
Resolvi te mandar esta mensagem, porque ainda nos lembro. Muito Ainda mais agora. Deve ser por causa do excesso de literatura que você considerava “de mulher” dos últimos curtos dias, ou do vinho e uísque barato dos últimos longos anos. Ou porque estou me sentindo uma velha solitária. Este seria, entre risos, seu veredito final, tenho certeza.
Enfim, as lembranças são principalmente sobre sua delicadeza e insistência em certos carinhos tão seus. Daqueles do tipo que depois de algum tempo sendo feitos, me deixavam pronta para enfrentar banheiros em bares cheios ou ruas escuras em locais ermos. Carinhos que até hoje se por acaso repetidos em meu corpo por outro alguém, me levam de volta ao tempo de nós dois.
Por exemplo, quando mesmo entre amigos e cervejas, pegavas minha mão, e exploravas em círculos sua palma, com um língua lenta e morna e molhada. Eu gostava de ver seus olhos abertos, divididos entre me fitar de soslaio e prestar atenção à conversa das pessoas na mesa que estivéssemos. A devolvias, longos minutos depois, sorrindo vitorioso, como se com tua língua tivesses lido que meu futuro era estar sempre contigo.
Gostava também quando com tua unha comprida de violonista coçavas engraçado por trás do meu joelho. Um sinal, quase uma ordem, eu sabia. As calcinhas foram abolidas, os vestidos se tornaram meu uniforme na nossa batalha diária. Alguém chegou a vencê-la, querido?
Enfim, lembro principalmente de você correndo atrás de mim numa rua alagada, no meio de uma chuva infernal, quando decidi que aquele estado de eterna ânsia e desejo só poderia acabar nos matando. Lembro quando eu finalmente cansei e sentei naquele banco de praça e você me alcançou, só para com um olhar de raiva me empurrar para longe de ti e de volta à minha decisão, me deixando sozinha.
Desde então, nunca mais parou pararam as tempestades, querido...
Enfim, em três dias estarei de volta à nossa cidade, e marquei com alguns de nossos velhos amigos num novo local qualquer (o endereço está abaixo). Se puderes aparecer, te prometo minha mão em cima da mesa, novamente à tua espera.
Irás?

Um comentário:

Menina no Sotão disse...

Um filme brincou junto a minha mente. Tomei chuva, sentei-me em desatino no banco e fiquei a observar paisagens inteiras. Onde estará a bendita resposta? Se é que existe. rs

bacio